quarta-feira, 18 de julho de 2012

AUGUSTO DOS ANJOS - SAUDADE

SAUDADE
Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
E o coração me rasga atroz, imensa,
Eu a bendigo da descrença em meio,
Porque eu hoje só vivo da descrença.

À noite quando em funda soledade 
Minh'alma se recolhe tristemente, 
Pra iluminar-me a alma descontente, 
Se acende o círio triste da Saudade.

E assim afeito às mágoas e ao tormento,
E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
Para dar vida à dor e ao sofrimento,

Da saudade na campa enegrecida 
Guardo a lembrança que me sangra o peito, 
Mas que no entanto me alimenta a vida.
 Augusto dos Anjos

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