sábado, 7 de julho de 2012

ANIBAL BEÇA - LEITURA DO POEMA

Leitura do Poema
Tantas leituras em vôo
para um leitor no seu solo
de pé no chão e de prima
há que se ter asas ávidas.

Desconstruir os estáveis
cânones santificados.
saber ler a descoberta
na sua própria leitura.

Desaprender aulas tolas
sobre como ler poemas
san tolebibs bibelots: 
Um desejo mallarmáico.

A poesia se rege
pela dança das palavras
pela música do engenho
pelo sonho das imagens.

Não queira nunca levar
qualquer verso ao pé da letra
mas embarque na magia
transgressora do poeta.

Essa viagem translúcida 
flecha com nuvens de sonhos
lambe as águas mais remotas
nos pés de ventos marinhos.

As rimas são bricolages
o metro canto em gaiola
se o alpiste traz as idéias
O canário cantarola. 

A poesia é a essência
mais difícil de abraçar
quase sempre passa ao largo
sem visitar o poema.

Então como descobrir
essa entidade de enigma?
Essa bruxa alcandorada?
No caldeirão de andorinhas.

De lá desse tabuleiro
do ninho encrestado à mesa
a pluma branca se empluma
para o azul do céu mais claro.

E libertária se evola
para o vão de mil olhares
para os ouvidos de ouvir
esculpindo a sua fala

Só pousa onde é reclamada
sem firmar um compromisso;
a serventia se escolhe
de acordo ao sentimento.

Bendita chuva de fogo
A chover em muitas línguas
Um santelmo de garoa
Respingando na leitura.

Talvez que o sentimento
entranhável do poema
seja mesmo a emoção
a revelar poesia.
Aníbal Beça

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