segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

SANTA RITA DURÃO - CARAMURU


Caramuru
Canto II

XVII

Não era assim nas aves fugitivas,

Que umas frechava no ar, e outras em laços

Com arte o caçador tomava vivas;

Uma, porém, nos líquidos espaços

 

Faz com a pluma as setas pouco ativas,

Deixando a lisa pena os golpes lassos.

Toma-a de mira Diogo e o ponto aguarda:

Dá-lhe um tiro e derruba-a com a espingarda.

 

Estando a turba longe de cuidá-lo,

Fica o bárbaro ao golpe estremecido

E cai por terra no tremendo abalo

 

Da chama do fracasso e do estampido;

Qual do hórrido trovão com raio e estalo

Algum junto a quem cai fica aturdido,

Tal Gupeva ficou, crendo formada

 

No arcabuz de Diogo uma trovoada.

Toda em terra prostrada, exclama e grita

A turba rude em mísero desmaio,

E faz o horror que estúpida repita

 

Tupã, Caramuru, temendo um raio.

Pretendem ter por Deus, quando o permita

O que estão vendo em pavoroso ensaio,

Entre horríveis trovões do márcio jogo,

 

Vomitar chamas e abrasar com fogo.

Desde esse dia, é fama que por nome

Do grão Caramuru foi celebrado

O forte Diogo; e que escutado dome

Este apelido o bárbaro espantado.

 

Indicava o Brasil no sobrenome,

Que era um dragão dos mares vomitado;

Nem de outra arte entre nós antiga idade

Tem Joce, Apolo e Marte por deidade.

Santa Rita Durão

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