terça-feira, 26 de junho de 2012

ALBERTO DE OLIVEIRA - A VINGANÇA DA PORTA

Alberto de Oliveira
A Vingança da Porta

Era um hábito antigo que ele tinha:

Entrar dando com a porta nos batentes.

Que te fez essa porta? a mulher vinha

E interrogava. Ele cerrando os dentes:

 

Nada! traze o jantar! — Mas à noitinha

Calmava-se; feliz, os inocentes

Olhos revê da filha, a cabecinha

Lhe afaga, a rir, com as rudes mãos trementes.

 

Urna vez, ao tornar à casa, quando

Erguia a aldraba, o coração lhe fala:

Entra mais devagar...  —

Pára, hesitando...

 

Nisto nos gonzos range a velha porta,

Ri-se, escancara-se.  E ele vê na sala,

A mulher como doida e a filha morta.

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