Não me contaram
Ninguém morreu em nenhuma
guerra (ou não me contaram).
As estadas em África, acidentais.
Na política, estadonovismo,
depois e antes
o que antes e depois havia
mais parecido. Ninguém
se bateu em duelo. Nenhum
homossexual notório e decadente.
À pergunta “alguém se matou
na família?” a avó
respondeu-me uma vez surpresa
e quase severa (mas quem?).
Alguém passou uma noite
na prisão? Só se em alguam
precaução alcoólica, em época
de Queima das Fitas.
O meu avô livrou-se
fraudulentamente da tropa, mas foi
na I República, por isso
achamos bem e a história
Tem graça (“faleceu”
nos editais e pronto). Algumas
cartas foram queimadas
com as próprias pistas que
deixavam. Eis uma gaveta
imaginária de espantos.
Episódios ancestrais não se conhecem
mas a família
imediata oferece apenas
mitologias pequenas, monstruosidades
vulgares: doenças e dinheiros e adultérios
e filhos “fora do matrimónio”
e loucuras mais ou menos
inofensivas. Serve
Para drama português, não
para tragédia grega,
para referência privada
ou que, em público, mostre, espantosa
a família que não tenho, um
exagero, em resumo,
como fazem os poemas à falta
de melhor motivo. Ou então,
não me contaram.
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