Miguel Torga, pseudónimo adoptado em 1934 de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em 1907 em S. Martinho de Anta, distrito de Vila Real. Emigrou para o Brasil em 1920 e quando regressou em 1925, matriculou-se na Universidade de Coimbra onde se formou em Medicina em 1933. Especializa-se em otorrinolaringologia, estabelecendo-se em Coimbra em 1939.
Portugal
Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que de tou.
Mostro aos olhos que não te disfugura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.
E torno mais real o rosto que de tou.
Mostro aos olhos que não te disfugura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.
E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço.
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço.
Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.
Miguel Torga
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