segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ECLIPSES E OUTROS PALIMPSESTOS - PEDRO PROENÇA



Eclipses e outros palimpsestos  
               (1978/1997)


Os sacrifícios ficam por cheirar
por causa do pelo na venta
e sempre que alguém acende o lume
buscando dádiva agoirenta
surgem como riscados fósforos os deuses:
a demora em assar a vítima
é engolida nas sílabas rituais
e recozida nas brasas finais.

O sacrifício ressurge como incumprimento 
e promessa aterradora 
aceitado pelo vento 
e recortado à tesoura.

Que é daqueles que em céus soterrados,
demolidos, divididos, despejados,
e de ignotos demônios pejados
se perderam recatados
em buscas bruscas e bocais?

Onde a pergunta traça o esboço
a resposta surge destroço.
Pedro Proença

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