sábado, 8 de janeiro de 2011

FRANCISCO DE SÁ DE MIRANDA - 1495-1558

Francisco de Sá de Miranda - Esteve cinco anos (1521-1526) na Itália, 
de onde regressou trazendo a técnica do soneto, uma das formas próprias da chamada "medida nova". 

Com o soneto, Sá de Miranda trouxe, ainda, 'outras formas poéticas.

Passando, então, pela Espanha, travou relações com Juan Boscán e Garcilaso de La Vega
que, também, se entregavam, em sua pátria, à mesma tarefa
 de estabelecer o novo estilo da poesia italiana (o "dolce stil nuovo").

"Quando Sá de Miranda esteve na Itália - lembra Clóvis Monteiro - 
entrava ali o movimento renascentista em língua italiana no seu período propriamente clássico".

Em Portugal, até então, só se conhecia, praticamente, o verso de sete sílabas, 
que era empregado nos vilancetes, nas cantigas e nas trovas, conforme se vê, por exemplo,
 no Cancioneiro de Resende (1516).
 
  Sá de Miranda usava, inicialmente, o setissílabo.
 Mas, a nova exigência do tempo passou a ser o decassílabo à italiana (hendecassílabo),
 apresentado em tercetos, odes, canções, oitava rima e, com destaque, nos sonetos.
 
Com esse novo verso, iniciou, em Portugal, o estilo literário, a que acima aludimos,
 reformando o teatro e a poesia lírica.

Juntou discípulos fiéis, destacando-se, entre outros, Antônio Ferreira e Diogo Bernardes,
 podendo-se acrescentar a estes os nomes de Pedro de Andrade Caminha
Frei Agostinho da Cruz, Jorge de Montemór, André Falcão de Resende e D. Manuel de Portugal.

Sá de Miranda empregava a tortura da forma. 

Ele próprio dizia, numa imagem interessante, que "retocava os seus versos
 com o minucioso amor com que a ursa lambe os filhos mal proporcionados". 

Garret disse que ele "filosofou com as musas e poetizou com a filosofia".

Cognominado, por alguns, o "Malherbe português", escreveu, além de outras obras, 29 sonetos.

Não se pode afirmar que tenha sido um grande sonetista; mas é indispensável seja aqui lembrado, 
no mínimo, em homenagem ao seu pioneirismo.

Era filho do Cônego Gonçalo Mendes de Sá e D. Inês de Melo.
 
Nascimento irregular, muito freqüente naquele tempo.

Com os recursos deixados pelo Cônego, seu pai, conseguiu ir à Itália, realizando,
 assim, uma grande aspiração.

Irmão de Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil.
 Parente longínquo da famosa Vitória Colonna, ilustre poetisa italiana.
Foi ela quem aproximou o poeta das rodas da arte e da literatura, na Itália.
O que reproduzimos, a seguir, é um dos seus sonetos mais citados, 
considerado por Manuel Bandeira como "obra-prima da poesia lusa":
 
O      sol é grande; caem co'a calma as aves
 do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
 Esta água que cai do alto acordar-me-ia
do sono não, mas de cuidados graves.
 
O      cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração que em vós confia?
Passando um dia vai, passa outro dia,
incertos todos, mais que ao vento as naves.
 
Eu vi já por aqui sombras e flores,
vi águas e vi fontes, vi verdura,
 as aves vi cantar todas de amores.
 
  Mudo e seco é já tudo; e, de mistura,
 também mudando-me eu, fui de outras cores;
 se tudo o mais renova, isto é sem cura.

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