Francisco de Sá de Miranda - Esteve cinco anos (1521-1526) na Itália,
de onde regressou trazendo a técnica do soneto, uma das formas próprias da chamada "medida nova".
Com o soneto, Sá de Miranda trouxe, ainda, 'outras formas poéticas.
Passando, então, pela Espanha, travou relações com Juan Boscán e Garcilaso de La Vega,
que, também, se entregavam, em sua pátria, à mesma tarefa
de estabelecer o novo estilo da poesia italiana (o "dolce stil nuovo").
"Quando Sá de Miranda esteve na Itália - lembra Clóvis Monteiro -
entrava ali o movimento renascentista em língua italiana no seu período propriamente clássico".
Em Portugal, até então, só se conhecia, praticamente, o verso de sete sílabas,
que era empregado nos vilancetes, nas cantigas e nas trovas, conforme se vê, por exemplo,
no Cancioneiro de Resende (1516).
Sá de Miranda usava, inicialmente, o setissílabo.
Mas, a nova exigência do tempo passou a ser o decassílabo à italiana (hendecassílabo),
apresentado em tercetos, odes, canções, oitava rima e, com destaque, nos sonetos.
Com esse novo verso, iniciou, em Portugal, o estilo literário, a que acima aludimos,
reformando o teatro e a poesia lírica.
Juntou discípulos fiéis, destacando-se, entre outros, Antônio Ferreira e Diogo Bernardes,
podendo-se acrescentar a estes os nomes de Pedro de Andrade Caminha,
Frei Agostinho da Cruz, Jorge de Montemór, André Falcão de Resende e D. Manuel de Portugal.
Sá de Miranda empregava a tortura da forma.
Ele próprio dizia, numa imagem interessante, que "retocava os seus versos
com o minucioso amor com que a ursa lambe os filhos mal proporcionados".
Garret disse que ele "filosofou com as musas e poetizou com a filosofia".
Cognominado, por alguns, o "Malherbe português", escreveu, além de outras obras, 29 sonetos.
Não se pode afirmar que tenha sido um grande sonetista; mas é indispensável seja aqui lembrado,
no mínimo, em homenagem ao seu pioneirismo.
Era filho do Cônego Gonçalo Mendes de Sá e D. Inês de Melo.
Nascimento irregular, muito freqüente naquele tempo.
Com os recursos deixados pelo Cônego, seu pai, conseguiu ir à Itália, realizando,
assim, uma grande aspiração.
Irmão de Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil.
Parente longínquo da famosa Vitória Colonna, ilustre poetisa italiana.
Foi ela quem aproximou o poeta das rodas da arte e da literatura, na Itália.
O que reproduzimos, a seguir, é um dos seus sonetos mais citados,
considerado por Manuel Bandeira como "obra-prima da poesia lusa":
O sol é grande; caem co'a calma as aves
do tempo em tal sazão, que sói ser fria.
Esta água que cai do alto acordar-me-ia
do sono não, mas de cuidados graves.
O cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração que em vós confia?
Passando um dia vai, passa outro dia,
incertos todos, mais que ao vento as naves.
Eu vi já por aqui sombras e flores,
vi águas e vi fontes, vi verdura,
as aves vi cantar todas de amores.
Mudo e seco é já tudo; e, de mistura,
também mudando-me eu, fui de outras cores;
se tudo o mais renova, isto é sem cura.
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