Augusto Gil - Foi poeta fluente, simples e de enorme popularidade, dono de estilo agradável.
Poeta lírico dos maiores de seu tempo, em Portugal.
Divulgamos um de seus sonetos, exortação angustiosa:
Ao charco mais escuso e mais imundo
chega uma hora, no correr do dia,
em que um raio de sol, claro e jucundo,
o visita, o alegra e o alumia;
pois eu, nesta desgraça em que me afundo,
nesta continua e intérmina agonia,
nem tenho uma hora só dessa alegria
que chega às coisas infimas do mundo!...
Deus meu, acaso a roda do Destino
a movimentam vossas mãos leais,
num aceno impulsivo e repentino,
sem que na cega turbulência a domem?!
Senhor, não é um seixo o que esmagais;
olhai, Senhor, que é o coração de um homem!
E acrescentamos outro desse maravilhoso poeta, intitulado "Words, words..."
Contam que em pequenino costumava,
ao ver-me num cristal reproduzido,
beijar a própria boca, em que julgava
ver a boca de alguém desconhecido.
Cresci. Amei-A. E tão alheio andava
no sonho por seus olhos promovido,
que, em vez das cartas que Ela me mandava,
eu lia o que trazia no sentido.
Rodou o tempo. Estou doente e velho...
Agora, se me acerco de um espelho,
ó meus cabelos, noto que alvejais...
E as cartas d'Ela, se as releio agora,
só vejo por aquelas linhas fora,
palavras e palavras. Nada mais!
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