sábado, 22 de janeiro de 2011

AUGUSTO GIL - 1873-1929

Augusto Gil -  Foi poeta fluente, simples e de enorme popularidade, dono de estilo agradável.
Poeta lírico dos maiores de seu tempo, em Portugal.
 
Divulgamos um de seus sonetos, exortação angustiosa:
 
Ao charco mais escuso e mais imundo
chega uma hora, no correr do dia,
em que um raio de sol, claro e jucundo,
 o visita, o alegra e o alumia;
 
pois eu, nesta desgraça em que me afundo,
 nesta continua e intérmina agonia,
nem tenho uma hora só dessa alegria
 que chega às coisas infimas do mundo!...
 
Deus meu, acaso a roda do Destino
a movimentam vossas mãos leais,
 num aceno impulsivo e repentino,
 
sem que na cega turbulência a domem?!
Senhor, não é um seixo o que esmagais;
 olhai, Senhor, que é o coração de um homem!


E acrescentamos outro desse maravilhoso poeta, intitulado  "Words, words..."
 
Contam que em pequenino costumava,
ao ver-me num cristal reproduzido,
 beijar a própria boca, em que julgava
 ver a boca de alguém desconhecido.
 
Cresci. Amei-A. E tão alheio andava
no sonho por seus olhos promovido,
 que, em vez das cartas que Ela me mandava,
eu lia o que trazia no sentido.
 
Rodou o tempo. Estou doente e velho...
Agora, se me acerco de um espelho,
 ó meus cabelos, noto que alvejais...
 
E as cartas d'Ela, se as releio agora,
só vejo por aquelas linhas fora,
 palavras e palavras. Nada mais!

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