segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

ANTÔNIO NOBRE - 1867-1900


Antônio Nobre - Seu livro "" é uma relíquia preciosa da poesia portuguesa.

Poeta pessimista, mas de raro vigor e simplicidade, quase todos os seus versos são repassados de ternura.

A poesia lusa teve, nele, um renovador de notável inspiração.
 
  Alguns de seus sonetos são antológicos, como os dois que a seguir distinguimos:
 
"Soneto Nº4" (1886)
 
O Virgens que passais, ao Sol-poente,
 pelas estradas ermas, a cantar!
Eu quero ouvir uma canção ardente,
que me transporte ao meu perdido Lar.
 
Cantai-me, nessa voz onipotente,
o Sol que tomba, aureolando o Mar,
a fartura da seara reluzente,
o      vinho, a Graça, a formosura, o luar!
 
Cantai! Cantai as límpidas cantigas!
Das ruínas do meu Lar desaterrai
 todas aquelas ilusões antigas
 
que eu vi morrer num sonho, como um ai...
O suaves e frescas raparigas,
adormecei-me nessa voz... Cantai!


"Soneto nº 12"        (1891)
 
Não repararam nunca? pela aldeia,
nos fios telegráficos da estrada,
 cantam as aves, desde que o Sol nada,
e, à noite, se faz sol a Lua cheia.
 
No entanto, pelo arame que as tenteia,
 quanta tortura vai, numa ânsia alada!
O Ministro que joga uma cartada,
alma que, às vezes, d'Além-Mar anseia:
 
-       Revolução! - Inútil. - Cem feridos,
setenta mortos. - Beijo-te! - Perdidos!
-       Enfim, feliz! - ? -! Desesperado. - Vem!
 
E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, Antônio, deves ser também.

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