sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

FREGUESIA DE UCANHA


REGIÃO               norte
SUB  REGIÃO       douro                
DISTRITO             Viseu
CIDADE                tarouca
FREGUESIA               Ucanha


Entre a ponte de Ucanha  e a ponte nova observa-se uma ínsua, usada como praia fluvial. O vale, bastante aberto, proporciona o aproveitamento de lameiros e campos de milho, bem como vinhas e olivais, estes últimos ocupando um patamar superior. O conjunto construído atinge a margem oposta, pertencente já à freguesia de Gouviães. Nos limites do aglomerado, e em especial ao longo das estradas transversais à via principal, regista-se o impacto de construções dispersas dissonantes.

Situada a cerca de 5 km de Tarouca, Ucanha marca a entrada do antigo couto do Mosteiro de Salzedas. Ainda no limite da freguesia conserva-se as ruínas da Abadia Velha de Salzedas.
Sendo uma vila com uma formação urbana linear estruturada por uma única via, cujo elemento matricial é constituído pela ponte fortificada. Denominada Rua Principal, Rua Direita ou simplesmente Rua, por se tratar da única, apresenta uma orientação E. / O., perpendicular ao rio e às curvas de nível, desenvolvendo-se numa extensão aproximada de 500 m.
    A sua largura oscila entre os 4 e os 10 m, consoante as numerosas inflexões produzidas pela difícil adaptação à base topográfica, impondo um acentuado declive que atinge cerca de 75 m de desnível. Seccionada transversalmente por duas estradas municipais, é composta por três troços, cuja sequência poderá ter um sentido cronológico. A designação de cada um deles revela a sua situação topográfica e o elemento construtivo de referência. O primeiro troço é nomeado Fundo da Rua ou Rua da Torre, tendo como ponto de partida a ponte e respectiva torre, junto da qual se esboça um largo, onde se ergueu o hospital ou albergaria.


  1. A via principal bifurca na direcção da Igreja Matriz, que se encontra resguardada pelo adro murado e pelo cemitério, destacando-se com a torre sineira na silhueta urbana. O segundo troço, a que se poderia chamar Meio da Rua, equivale à Rua do Pelourinho ou Rua da Senhora da Ajuda.

Trata-se de uma zona onde o espaço construído é mais denso, surgindo duas incipientes paralelas e respectivas travessas, polarizadas em função do duplo alargamento da rua produzindo o Largo do Pelourinho e o Largo da Senhora da Ajuda. O primeiro, resultado do alargamento da via no lado N., mostra o pelourinho quase ao centro, junto à Casa da Câmara e Cadeia, que define o gaveto.

Na sua imediata contiguidade abre-se o Largo da Ajuda, formado pelo alargamento da via para o lado oposto. O seu espaço é ocupado pelo volume isolado da capela, cuja fachada abre para a rua em plano diagonal. O terceiro troço, o Cima da Rua ou Rua de Santo António, revela uma massa construída mais rarefeita, sendo o fim da Rua / Vila marcado pela Capela de Santo António, de diminutas dimensões. No conjunto da povoação observa-se que a rua é interrompida por travessas, aberturas redutíveis a pequenos becos e quelhas de acesso aos campos de cultivo.

Os muros divisórios das propriedades, assim como os canais de granito dos sistemas de rega, prologam visualmente essas linhas e compartimentam o espaço envolvente. Os muros em alvenaria de granito garantem ainda a contenção do alinhamento viário, que o espaço construído não confirma, denunciando antes a impossibilidade de uma clara definição de quarteirões. A casa uni familiar, tendo como tipo de base a casa rural beirã, caracteriza de modo genérico o espaço edificado.

Apresentando quase sempre dois pisos, confirma-se a reserva do piso térreo para as lojas, reflectindo um uso agrícola dissimulado na função residencial, enquanto o segundo piso, onde se localiza a cozinha, se destina à habitação. Identificam-se casas com escada externa e, mais correntemente, casas com escada interna. Destacam-se em especial as varandas em madeira reflectindo algumas especificidades construtivas, formais e cromáticas ( uso do vermelho, azul e verde ) que contribuem para matizar a sobriedade dos alçados. A composição é mais ou menos regular, recorrendo por regra à abertura de portas no piso térreo e janelas ou varandas no andar superior.
Os vãos, de lintel recto, não têm moldura, que aparece apenas nas casas mais abastadas, como na única casa brasonada (Rua da Torre). Salienta-se um número significativo de vãos biselados e mais pontualmente molduras em meia-cana e em arco conopial. No remate da frontaria regista-se o recurso frequente aos frechais ritmados por contrafeitos, simulando uma cornija. Constituem detalhes construtivos que enriquecem a imagem do espaço construído, tal como a presença pontual de trapeiras e chaminés tronco-piramidais.

Época Construção: Séc. 13 / 15
Cronologia: 1150, cerca - fundação do Mosteiro de Salzeda, no termo de Argeriz, no local hoje denominado Abadia Velha, por iniciativa de D. Teresa Afonso, viúva de Egas Moniz; 1152 - doação régia do couto de Algeris (depois chamado de Salzedas) a D. Teresa Afonso; 1164 - renúncia do Bispo de Lamego a todos os direitos episcopais sobre o couto; provável início da construção do novo mosteiro; 1225 - sagração da Igreja do Mosteiro de Salzedas; séc. 12 - provável construção da ponte, à entrada do couto cisterciense, denominando-se a povoação Vila da Ponte; generaliza-se depois o toponómino Cucanha; o crescimento deste núcleo está relacionado com a exploração tributária da ponte e com os aforamentos monásticos sucessivamente renovados; 1315 - documento régio determinando a obrigatoriedade da passagem na ponte e pagamento da respectiva portagem; 1324 - tentativa régia de isentar os moradores de Castro Rei do pagamento de portagem, tentativa não sucedida devido à oposição do Mosteiro de Salzedas; 1364 - carta de D. Pedro I coutando o rio em ambas as margens para pesca exclusiva do mosteiro (local do Açude dos Frades); 1465 - reedificação da ponte e respectiva torre por iniciativa de D. Fernando, Abade de Salzedas (documentado por epígrafe); é provável que o arco já existisse, a fim de evitar a livre passagem da ponte, sendo possível que a torre se destinasse a depósito de produtos e aos aposentos do funcionário abacial (FERNANDES, 1995); 1472 - fundação de um hospital para pobres, por iniciativa do referido abade (REIS, 1612); foi identificado numa casa junto à torre (MOREIRA, 1924), talvez o edifício que conserva vestígios de um portal ornamentado com rosetas; séc. 14 / 15 - presença de três estalagens; 1504 - concessão de carta de foral ao Couto de Salzedas: o documento designa o lugar da Cucanha como cabeça do couto, menciona a Câmara e extingue a cobrança de portagem na ponte; 1527 - a Vila contava 111 moradores; séc. 17, 2ª metade - instituição da paróquia como curato do Mosteiro de Salzedas; 1673 - provável edificação do pelourinho (MALAFAIA, 1997); 1708 - possuía 150 vizinhos; 1721 - alvará régio autorizando o escrivão da Câmara de Ucanha a acumular o cargo de juiz executor do Mosteiro;
 1729 - conclusão da Igreja Matriz; séc. 18 - reparação da ponte documentada por epígrafe; presença de significativo número de mestres de pedraria, facto relacionável com as campanhas de obras do Mosteiro de Salzedas; 1836 - extinção do estatuto concelhio, passando a integrar o concelho de Mondim da Beira; demolição do pelourinho durante as Lutas Liberais; 1898 - integração no concelho de Tarouca; séc. 19 - fabrico de telha em Ucanha; 1960 - 1151 habitantes; 1970 - 435 habitantes; 1981 - 542 habitantes; 1991 - 499 habitantes com uma densidade de 94 habitantes / Km2, apesar da reduzida dinâmica demográfica; distribuição da população activa: 57,3 % no sector primário, 26,3 % no secundário e 16,4 % no terciário; taxa de analfabetismo: 17,4 %; população residente envelhecida e com poucos recursos financeiros (15 % de indivíduos com mais de 65 anos e 33,4 % com menos de 14 anos).



Tipologia: Povoação linear organizada por uma única via desenvolvida a partir da ponte fortificada, o elemento gerador do espaço construído. Rua segmentada em três troços: o Fundo, o Meio e o Cimo da Rua, equivalentes à Rua da Torre, Rua do Pelourinho / Senhora da Ajuda e Rua de Santo António, topónimos que reflectem a posição relativa de cada um dos troços e os elementos marcantes do percurso. O alargamento pontual da rua esboça um largo junto à Torre, à Igreja Matriz, à Capela da Ajuda e ao Pelourinho. Maior densidade construtiva em redor do Largo do Pelourinho. Incipiente formação de travessas, restritas a alguns becos e quelhas de acesso aos terrenos agrícolas, constituindo aberturas perspectivadas sobre a envolvente. Silhueta urbana composta pelo escalonamento de volumes. Linearidade viária assegurada pelos muros. Espaço construído composto por casas unifamilares com dois pisos e construção de base com paredes autoportantes em alvenaria de granito.


Grupos tipológicos identificados: casa com escada externa formando patamar simples e mais raramente balcão, como é o caso da Casa da Câmara; casa com escada interna em madeira, com um ou dois lanços, em geral perpendicular à fachada e agarrada à parede mestra; casa com varanda em madeira ocupando toda a largura do lote, formando alpendre e com o piso superior em tabique revestido por reboco, chapa de zinco (lisa ou ondulada), telhas de ardósia ou telha invertida. Variantes tipológicas da varanda: varanda à face, em semi-consola ou projectada em consola, com parapeito gradeado ou forrado, varanda em arcada, encerrada e envidraçada, estas últimas variantes pouco representadas. Vãos de lintel recto ou biselado, pontualmente em meia-cana ou arco conopial. Uso de frechais com contrafeitos rematando os beirados. A estrutura urbana e a tipologia do edificado revela afinidades com o Bairro da Ponte em Lamego. 
Características Particulares: Excepcionalidade da ponte fortificada, constituindo a entrada monumental do Couto de Salzedas. O facto dos habitantes chamarem Calçada à Rua reflecte a persistência da função inicial. Rua com declive acentuado. Implantação excêntrica da Igreja. Contiguidade entre os largos do Pelourinho e da Ajuda. Ambiente urbano dependente dos pormenores construtivos, em particular das varandas em madeira. Terra natal de Leite de Vasconcelos.
Dados Técnicos: Paredes autoportantes em alvenaria de granito de junta seca ou argamassada; tabique de terra revestido com reboco, chapa de zinco, ardósia ou telha; travamento dos pisos com vigamento em madeira; revestimento das coberturas com telha cerâmica.
Materiais: Granito, madeira, ferro, reboco, chapa de zinco, ardósia, telha de canudo, de aba e canudo, marselha.
Intervenção Realizada: J. Leite de Vasconcelos: 1935 - reconstrução do Pelourinho; DGEMN: 1936 / 1937 / 1938 / 1939 / 1965 / 1969 / 1975 / 1977 / 1978 / 1988 / 1989 / 1990 / 1999 - obras de conservação, restauro, consolidação e beneficiação da ponte e torre. Fábrica da Igreja Paroquial: 1990 / 1996 - obras de renovação da Igreja Matriz; 1999 - início das obras de reconstrução do edifício contíguo à Casa Leite de Vasconcelos (Centro Paroquial); CMT: 1991 - abertura da variante para Gouviães e construção da ponte nova, implicando a demolição de algumas construções que fechavam a via principal; 1998 - construção de instalações sanitárias públicas.
Observações: O topónimo Ucanha deriva de Cucanha, forma usada até ao séc. 17, tratando-se de um vocábulo que pode designar casebre ou lugar de diversão. A área do Couto de Salzedas compreendia as actuais freguesias de Cimbres, Granja Nova, Salzedas, Ucanha e Vila Chã. A agricultura constitui a actividade económica dominante (cereais, batata, árvores de fruto, oliveiras, vinha, sabugueiros). Em 1999 foi aprovada a candidatura ao Programa de Reabilitação de Áreas Urbanas Degradadas (PRAUD) para constituição do GTL.
Fonte: (www.monumentos.pt (DGEMN))


Gastronomia
ROJÕES
Ingredientes:

800 g de perna de porco sem pele, mas com gordura ;
3,5 dl de vinho verde branco ;
3 colheres de sopa de banha ;
4 dentes de alho ;
2 folhas de louro ;
1 colher de sobremesa de colorau ;
sal e pimenta ;
20 castanhas assadas ;
350 g de belouras ou bolachos;
350 g de tripa enfarinhada ;
100 g de fígado de porco ;
100 g sangue cozido 
Modo de Preparo
1.   Corta-se a carne de porco em cubos com cerca de 10 cm de lado, que se põem a marinar durante duas horas com o vinho, os dentes de alho esmagados, sal, pimenta e o louro.
2.   Leva-se ao lume (de preferência num tacho de ferro) e deixa-se cozer em lume forte até o vinho se evaporar.
3.    Junta-se então a banha e, em lume brando, deixam-se cozer os rojões até alourarem bem.
4.   Nessa altura junta-se ao molho o colorau dissolvido num pouco de vinho verde.
5.   Retira-se então um pouco da gordura de cozer os rojões para um sertã e fritam-se, a pouco e pouco, a tripa enfarinhada (1) cortada aos bocados de 3 cm a 5 cm, as belouras cortadas em rodelas com 0,5 cm de espessura e o fígado e o sangue cortados em fatias.
6.   À medida que estes ingredientes se vão fritando, juntam-se aos rojões, para manter tudo quente.
7.   Juntam-se também as castanhas assadas, depois de descascadas.
8.   Servem-se numa travessa com batatinhas louras e enfeitados com rodelas de limão e raminhos de salsa.

(1)     Tripa Enfarinhada

1. Lavam-se muito bem as tripas frescas e, em seguida, põem-se de molho, de um dia para o outro, em água com rodelas de limão.
2. Deve-se mudar a água várias vezes.
3. Em seguida enxugam-se, viram-se do avesso e passam-se por farinha de milho temperada com pimenta e cominhos.
4. Ata-se uma das extremidades e voltam-se para dentro.
5.  Mergulham-se em água a ferver para uma cozedura rápida.
 6. Depois de cozidas, fritam-se em banha e cortam-se do tamanho que se quiser.










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