O ANJO AFLIGIDO
Há muito que se conserva ali sozinho.
Adivinha-se o esforço que fazia para esconder o próprio corpo.
E que se tornaram nele as vestes mais frágeis.
A luz atravessa-as.
Depois, uma ruga forma-se e descai como uma suspeita.
O que se pode saber de um sinal que fica pouco nítido
e não era diferente do caminho de qualquer veia? Mesmo que se estenda uma das mãos, como se viesse agora proteger-nos, sabíamos como este gesto
era para nós demasiado leve.
Nada que lhe fosse atribuído podia sequer existir. Sempre há-de tornar-se maior a agonia para quem se habituou a olhar para tão longe.
A claridade diminui.
Espalham-se as sementes até onde ficava a sombra dos seus pés.
Permanecem aí escondidas.
Talvez procurassem o que se parecia agora com uma despedida. Há muito esperava as preces que sabia estarem prometidas.
Nenhuma dor existe nele; mas todos os dias a pensa. Caídas pêlos olhos, as lágrimas.
FERNANDO GUIMARÃES
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