quinta-feira, 30 de junho de 2011

BIBLIA DO SONHO - ALBERTO DE OLIVEIRA


BÍBLIA DO SONHO

O Mar agita-se, como um alucinado:
a sua espuma aflui, baba da sua Dor...
Posto o escafandro, com um passo cadenciado,
Desce ao fundo do Oceano, algum mergulhador.

Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa:
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano:
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano!

E em vão as ondas se enroscam à cabeça:
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa,
Com suprema altivez, com ironias calmas:

Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar,
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas!

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