terça-feira, 2 de novembro de 2010

POEMA II - FERNANDO PESSOA

Poema 2
Chove? Nenhuma chuva cai... Então onde é que eu sinto um dia Em que o ruído da chuva atrai A minha inútil agonia?
Onde é que chove, que eu o ouço? Onde é que é triste, ó claro céu? eu quero sorrir-te, e não posso, Ó céu azul, chamar-te de meu...



E o escuro ruído da chuva É constante em meu pensamento. Meu ser é a invisível curva Traçada pelo som do vento...

E eis que ante o sol e o azul do dia, Como se a hora me estorvasse, Eu sofro... E a luz e a sua alegria Cai aos meus pés como um disfarce.

Ah, na minha alma sempre chove. Há sempre escuro dentro de mim. Se escuto, alguém dentro de mim ouve A chuva, como a voz de um fim...

Quando é que eu serei da tua cor, Do teu plácido e azul encanto, Ó claro dia exterior, Ó céu mais útil que o meu pranto?

Fernando Pessoa

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