sábado, 27 de novembro de 2010

ANTONIO CABRAL



SOLIDÃO
A maior parte das vezes não abre a janela:
senta-se no velho poial, como um resto de musgo,
e deixa que os olhos passem no vidro,
visitando-se mais uma vez. As coisas,

gradualmente, configuram-na, desde aquela hora,
e quem a procura, sentindo-a no fundo das águas,
não lhe pergunta pelo marido.
O relicário de pau-santo fere-lhe
a solidão de semente abolida,
já o arco de si própria.
Pudesse ao menos saber para onde irão varrer

o que ficar da sua sombra, quando vender a quinta.
Para junto dos limoeiros, sonha.
enquanto a alma escorrega, docemente.

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