sábado, 2 de abril de 2011

OS LUSIADAS - CANTO 1 ( 56 A 60 )


56

Isto dizendo, o Mouro se tornou
A seus batéis com toda a companhia;
Do Capitão e gente se apartou
Com mostras de devida cortesia.
Nisto Febo nas águas encerrou,
Co'o carro de cristal, o claro dia,
Dando cargo à irmã, que alumiasse
O largo mundo, enquanto repousasse.

57

A noite se passou na lassa frota
Com estranha alegria, e não cuidada,
Por acharem da terra tão remota
Nova de tanto tempo desejada.
Qualquer então consigo cuida e nota
Na gente e na maneira desusada,
E como os que na errada Seita creram,
Tanto por todo o mundo se estenderam,

58

Da Lua os claros raios rutilavam
Pelas argênteas ondas Neptuninas,
As estrelas os Céus acompanhavam,
Qual campo revestido de boninas;
Os furiosos ventos repousavam
Pelas covas escuras peregrinas;
Porém da armada a gente vigiava,
Como por longo tempo costumava.

59

Mas assim como a Aurora marchetada
Os formosos cabelos espalhou
No Céu sereno, abrindo a roxa entrada
Ao claro Hiperiónio, que acordou,
Começa a embandeirar-se toda a armada,
E de toldos alegres se adornou,
Por receber com festas e alegria
O Regedor das ilhas, que partia.

60

Partia alegremente navegando,
A ver as naus ligeiras Lusitanas,
Com refresco da terra, em si cuidando
Que são aquelas gentes inumanas,
Que, os aposentos cáspios habitando,
A conquistar as terras Asianas
Vieram; e por ordem do Destino,
O Império tomaram a Constantino.

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