José Duro - Poeta-revelação de alto talento, muito inspirado.
Morreu tuberculoso, como Júlio Diniz, Soares de Passos, Antônio Nobre, Cesário Verde, Guilherme Braga,
e muitos outros poetas portugueses.
Seu único livro, "Fel", foi publicado poucos dias antes de sua morte. Livro de dor profunda.
Admiremos um de seus sonetos, bastante realista:
Margarida Gautier, o teu amor assombra;
teu corpo é um bordel; mas a tua alma é chama.
E a flor também se dá num pântano de lama,
como em qualquer jardim ou em qualquer alfombra.
Embriaga-me o sol; mas gosto mais da sombra,
por que o sol não me escuta, e a sombra é que me chama...
E eu, que desprezo tudo, eu amo só quem ama,
amo talvez a dor que o meu olhar ensombra.
Para que um astro brilhe, é necessária a noite;
porém, estrelas há que antes que o sol se acoite,
já elas, pelo azul, desfolham malmequeres.
Assim, o teu amor, estranhamente raro,
rasgando a podridão em pleno dia claro,
mostrou que tinhas alma às almas das mulheres!
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