domingo, 2 de outubro de 2011

O POEMA - LUIZA NETO JORGE



O poema
         I
         Esclarecendo que o poema
         é um duelo agudíssimo
quero eu dizer um dedo
agudíssimo claro
apontando ao coração do homem

falo
com uma agulha de sangue
a coser-me todo o corpo
à garganta e a esta terra imóvel
onde já a minha sombra
é um traço de alarme

II
Piso do poema
chão de areia

Digo na maneira
mais crua e mais
intensa
de medir o poema
pela medida inteira

o poema em milímetro
de madeira
ou apodrece o poema
ou se ateia

ou se despedaça
a mão ateia
ou cinco seis astros
se percorre
antes que o deserto
mate a fome

LUIZA NETO JORGE

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