ROSA INOMINADA
Amanhã, os frutos serão algo mais que a sombra anil
da minha carne incendiada.
Como urna estatua lisa, desvelada, em púrpura agonia,
o rosa se adivinha, o azul,
a fundura dos cílios longos, cúmplices, rectangulares
que vigiam as horas vagas, as horas mortas,
o vazio reticente.
Na suavidade das horas, nas membranas da noite,
entre faíscas de luz, vigio a melancolia,
os dedos quebrados pelo chão de pedra,
no difícil retorno do ser dividido.
Amanhã, os frutos serão algo mais que as rosas
esboroadas em que afundo os meus olhos.
Intemporal e leve pode ser o vento, a chama,
casual pode ser o gume cortante, o murmúrio insólito,
a lenta combustão, a cal lancinante.
esboroadas em que afundo os meus olhos.
Intemporal e leve pode ser o vento, a chama,
casual pode ser o gume cortante, o murmúrio insólito,
a lenta combustão, a cal lancinante.
Na quietude moldada, a cósmica exactidão das folhas,
das heras, vinca um instante de pó, um arbusto,
nos veios de cinza que cruzam e descruzam
a sinapse de luz que expande a ruína, a flor, a exactidão,
onde se afogam os lábios, os cabelos,
os lírios flutuando,
a seiva trémula pairando, na teia amotinada
do disperso alento.
MARIA DO SAMEIRO BARROSO
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