domingo, 13 de março de 2011

FREGUESIA DE ORVALHO

REGIÃO               CENTRO
SUB  REGIÃO   caSTELO BRANCO
DISTRITO         PINHAL INTERIOR SUL

CIDADE            OLEIROS

Freguesia
Orvalho


PRIMEIROS POVOS – Em rigor, não se sabe bem quais foram os primeiros povos a habitar este local. Contudo, no Cabeço Mosqueiro (grande elevação que serve de fundo à pequena aldeia do Orvalho) há vestígios de um antigo “Castro” pré-romano. Podemos portanto depreender que, ainda antes da denominação Romana, por aqui se haviam fixado outros povos, embora isto seja apenas uma assumpção sem qualquer carácter científico, baseada apenas nesses vestígios.

A partir daí, porém, o rigor histórico é um pouco maior e permite-nos avançar com alguma certeza que o Orvalho deve ter então sentido as vicissitudes típicas desta região, sendo o seu solo pisado por romanos, germânicos e mouros, em fases distintas da sua história. Desconhece-se, porém, o povoamento do seu território e se terá sido feito, ou não, de forma continuada, mas podemos avançar que, provavelmente, ficou despovoado após as invasões mouras.

Viria mais tarde a ser repovoado, já depois de ser reconhecida a nossa nacionalidade, quando as ordens religiosas aqui chegaram a fim de repovoar toda esta região.



DATA DE ORIGEM – Não se conhece qualquer documento que refira a data da criação da Freguesia de Orvalho. Sabemos apenas que o seu registo paroquial teve início em 1627, mas a sua instituição pode até ser anterior a essa remota data. A sua concretização terá sido obra do pároco de Janeiro de Baixo e terá tido lugar na velhinha ermida dedicada a São Mateus, que passou a desempenhar na altura funções de igreja matriz. O Santo Padroeiro da Freguesia de Orvalho é São Bartolomeu, seu primeiro e único patrono desde a fundação da paróquia.

A igreja matriz atual foi construída em 1940 e já sofreu várias restaurações e remodelações, a última das quais em 2007. Mas há muitas capelas com datas anteriores à da igreja matriz.
ORIGEM DO NOME – Até hoje, não se sabe ao certo a origem do nome Orvalho. No entanto, várias pessoas adiantam teorias diferentes, que passamos agora a partilhar convosco:
      João Pedro Machado, por exemplo, no Boletim Mensal da Língua Portuguesa – ano IV (n.º 8, Agosto de 1953), diz que “a palavra Orvalho vem de um nome comum a toda a região e transformado em topónimo”, ou seja, quer ele com isto dizer que foi apenas uma palavra usual, que foi adoptada pelas pessoas como nome para esta localidade;
Já no Dicionário Contemporâneo de Língua Portuguesa de P. Américo, diz-se que “além do típico orvalho da aurora, existe uma espécie de planta conhecida por ervas do orvalho ou pinheiro-baboso, e outra conhecida por erva-pinheira orvalhada. A primeira pertence à família das Mesembryánthemun, que se encontra nas areias, enquanto a segunda é da família das Drosophyllum Lusitanicum e dá-se nos lugares arenosos, charnecas e pinhais, especialmente no centro e no sul do país”.
Esta última parte da sua definição encaixa perfeitamente na zona onde a povoação do Orvalho se encontra, pelo que não será de descartar esta possibilidade;
      Por fim, no Dicionário Ecológico "Formar", de 1982, “orvalho é uma camada de humidade que, sob a forma de pequenas gotas, se deposita nos corpos expostos ao ar livre durante a noite.


As árvores, pelas suas folhas, também libertam gotículas de água através dos poros, que acabam por constituir o orvalho”.
      Depois da leitura destas três definições, atendendo a que o lugar de Orvalho não fica no litoral, onde se estabelecem ligações com areias, mas fica próximo do rio Zêzere; atendendo a que há uma associação com charnecas e pinhais que, pelas suas folhas, libertam gotículas de água, ainda que pouca, uma vez que são árvores resinosas; atendendo a que toda a rede hidrográfica do Orvalho, bem como as suas primeiras casas, se encontram no fundo da depressão junto à ribeira, o que está de acordo com os princípios da fixação dos primeiros povos; será que podemos inferir que o nome Orvalho está ligado à existência do pinheiro e das ervas-pinheiras orvalhadas supracitadas?



Ou será que os grandes mantos de nevoeiro que, ainda hoje, originam grandes orvalhadas devido aos vastos cursos de água existentes na depressão, é que estão na origem do nome desta aldeia? Uma coisa é certa, são duas teorias válidas que, se pensarmos bem, nem sequer se contrapõem, uma vez que pode ter sido a feliz combinação destes dois factos, que levou os antigos a adoptar este nome. Existência de uma planta chamada erva-pinheira orvalhada + frequentes orvalhadas matinais = Orvalho. Faz sentido, não faz?


Terra rica em património natural, cultural e edificado, em artesanato e gastronomia.

Salienta-se do seu património a Igreja Matriz “com os seus altares revestidos em talha dourada”. As várias capelas e o Santuário da Nossa Senhora da Confiança.

A Capela de nossa Senhora da Nazaré, o Forno comunitário (calcula-se que tenha mais de 150 anos) e o antigo Lagar na Foz do Giraldo.
A Capela de Santa Teresinha nas Casas da Zebreira.


O Parque de Merendas e Miradouro do Mosqueiro de onde pode ver as Serras da Estrela, da Gardunha, da Lousã e uma paisagem deslumbrante sobre o rio Zêzere.
A Cascata da “Agua d` Alta” com cerca de 25 metros, formando a maior e mais bela cascata desta região.

As Casas em Pedra e as suas Janelas Tradicionais e os Chafarizes ainda existentes no Orvalho.


O Padre Manuel foi beneficiado na Igreja de São Bartolomeu de Vila Viçosa, foi professor na Ordem Militar de São Bento de Aviz em 1718, e exerceu o cargo de Comissário do Santo Oficio. Faleceu em Jeromenta. Era muito culto e tido como pessoa de grande virtude. O Padre José, o mais velho dos três irmãos, foi Jesuíta e Reitor do Colégio do Espírito Santo em Évora. Por ocasião da expulsão dos Jesuítas foi para Roma, onde acabou por falecer. O mais novo, Padre Bartolomeu, foi vigário da Igreja da antiga vila das Sarzedas e prior em Cambas.

Os amantes da natureza podem ainda passear por caminhos florestais ou ao longo da ribeira encontrando verdadeiras maravilhas.



Ao longo dos tempos, viveram no Orvalho pessoas notáveis. Entre as quais, três irmãos sacerdotes, descendentes afastados do Capitão João Antão, Cavaleiro da Ordem de Cristo, Familiar do Santo Oficio e Fidalgo da Casa Real. Supõe-se que, por temer o governo Espanhol no reinado dos Filipes, o Capitão João Antão se veio fixar no lugar de Brejo de Baixo.

Estes três padres seus descendentes, chamavam-se José Vaz de Azevedo, Manuel Vaz de Azevedo e Bartolomeu Vaz de Azevedo.



Esta família Vaz de Azevedo, que através dos anos crescera socialmente, teve muitos filhos ilegítimos. Impuseram-se pelas virtudes, mas também pelos seus defeitos, mas foram a sua cultura e riqueza que ditaram a sua ascensão social. No último século, a geração que mais marcou o nome da família, foi a que descendeu de Domingos Vaz de Azevedo. Tiveram oito filhos, três deles sacerdotes.


Outra pessoa notável nesta Freguesia foi Fabião Francisco Leite Guedelha, sogro do Visconde de Tinalhas, que se tornou memorável pelo grande roubo que lhe fizeram. Como era um proprietário abastado, poupado e bom administrador, conseguira juntar muito dinheiro e a fama correu longe...


Num serão de Outubro de 1838, apresentou-se em Orvalho uma quadrilha de quarenta e seis ladrões a cavalo. Invadiram a casa de Fabião Francisco, que vivia só com uma criada, e roubaram-lhe todo o dinheiro, num assalto que ficou para a história como um dos mais volumosos de toda a região

Gastronomia
A gastronomia típica do Orvalho, engloba tudo aquilo que se produz na região, reflectindo o modo de vida bem singular das gentes da Beira Baixa, região possuidora de uma riqueza gastronómica composta por pratos autênticos e originais, que perduram ao longo dos tempos e passaram de geração em geração.
De entre as delícias tradicionais da região, importa realçar o Maranho, o Cabrito Assado no Forno a Lenha, as Tigeladas, as Filhós, a Broa de Milho, as Papas de Carolo e o Bolo de Azeite. Passamos então a explicar como se fazem algumas destas iguarias incontornáveis:
MARANHO – Lavam-se muito bem as peles do estômago do cabrito, antes de se estonarem com água a ferver. De seguida, raspam-se com uma faca e esfregam-se com limão. Cortam-se então em pedaços, de forma a conseguir algumas pequenas bolsas, que se cosem posteriormente com agulha e linha, deixando apenas uma pequena abertura por onde se introduzirá o recheio. Depois, migam-se dois quilos de carne de cabrito ou de cabra (quanto mais nova e gorda é a rês, melhores e mais saborosos ficam os maranhos), duzentos gramas de presunto com a parte gorda e magra, e um chouriço magro. Tempera-se tudo com sal, vinho branco, azeite, um ramo de hortelã, salsa e sarpão finamente picado, e junta-se cerca de meio quilo de arroz. Mistura-se tudo muito bem, espera-se para tomar gosto e deita-se, depois, o preparado nas referidas bolsas, tendo o cuidado de não as encher muito. Fecham-se então totalmente as bolsas, cosendo o que faltava com agulha e linha. Colocam-se finalmente em água a ferver, deixando cozer durante cerca de hora e meia.
PAPAS DE CAROLO – Levam-se ao lume quatro tigelas de água temperada com duas ou três cascas de limão. Quando levantar fervura, junta-se uma tigela de carolo bem lavado. Cozinha-se em lume brando, mexendo constantemente com uma colher de pau até o carolo ficar macio. Aos poucos, junta-se um litro de leite e, por último uma chávena de açúcar. Deixa-se apurar bem e, ainda quente , deita-se em travessas de louça. Pode-se enfeitar com canela.
BOLOS DE AZEITE – Dissolvem-se trinta gramas de fermento de padeiro num pouco de água morna, junta-se um pouco de farinha e deixa-se levedar. Deitam-se quatro quilos de farinha num alguidar, faz-se uma cova no meio para onde se deitam (muito bem misturados!) duas dúzias de ovos batidos com um quilo de açúcar, meio litro de azeite morno, meio litro de leite, uma colher de chá de canela, uma colher de sopa de erva doce e uma pitada de sal. De seguida, junta-se o fermento levedado, amassando-se com as mãos até formar bolhas. Deixa-se levedar perto do lume ou tapa-se com um cobertor se for época de frio. Tendem-se depois como pão e vão ao forno a cozer.


Filhos
Ingredientes
12 ovos
1 kl farinha de trigo
1dec. De azeite
1 colher de sopa de margarina
100gr. De açúcar
Aguardente q.f.
½ colher de chá de canela
Raspas de limão
Um pouco de fermento de padeiro (desfeito em água fria)
1 pitada de sal

Modo de Preparo

1.  Batem-se muito bem os ingredientes com as mãos, até a massa fazer bolhas.
2.  Devem molhar-se continuamente as mãos em azeite, para não agarrarem à massa.
3.  Deixa-se levedar perto do lume ou tapa-se com um cobertor se for época de frio.
4.  Depois, formam-se bolas de massa, que devem ser esticadas nos joelhos sobre um pano branco.
Por fim, fritam-se em óleo bem quente.


2 comentários:

  1. Uma pesquisa muito interessante e pormenorizada. Parabéns! É sempre importante sabermos a origem das nossas raízes.

    ResponderExcluir
  2. Excelente trabalho acompanhando a descrição com as fotos ao lado da narrativa. Contudo apraz-me fazer a seguinte observação. Todo o texto em mais de 98% são transcrições de outros escritos uns publicados em forma de livros, outros em textos de outros trabalhos académicos no âmbito da Sociologia Rural realizados no espaço orvalhense e que foram dados a conhecer a alguns atores deste espaço. Neste sentido ficaria bem ao relator que após cada descrição anuncia-se as fontes e seus autores.

    ResponderExcluir