sexta-feira, 4 de novembro de 2011

RUY VENTURA - POEMAS INEDITOS



POEMAS INÉDITOS


[de Stefan Zweig, a meio do Atlântico]

a língua arde. queima
o coração, as veias, as células.
entre duas árvores, a corda
aperta a garganta. dissolve o anel e a saliva –
essa melodia
no interior do dragoeiro.

o incêndio alastra, sempre de negro.
sobe a escada, coloca sobre os olhos essa espada.
a língua arde. deixa entre as cinzas
vestígios de sombra. nada mais encontro
entre os escombros. antes da derrocada
levo para longe a última gota de sangue.
a saliva preenche o desespero,
o sopro do oceano.

fico deste lado, junto do medo.
tento salvar a última fronteira.
deixei este livro no sopé da montanha.
consigo ler. os símbolos
contudo têm pouca nitidez – 
mesmo quando os entendo.

a língua arde. a flama acompanha-nos
neste forno. a chama desfaz
os ossos e o cabelo, o anel
e a melodia onde tento navegar.

de que vale cruzar o horizonte
quando a cinza guarda rebentos e palavras?

o incêndio alastra
deste lado do oceano. o sal lava o corpo
e a linguagem. o fogo devora a distância.
este fogo

encontra no coração
(na terra?)
essa ave nascida no início.
RUY VENTURA

Nenhum comentário:

Postar um comentário