sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

JORGE REIS SÁ - UM CORPO CANSADO PELA MORTE


UM CORPO CANSADO PELA MORTE

Sabe que a tristeza inundou um corpo cansado pela morte.
Que o sorriso desapareceu numa madrugada fria de Dezembro
e não houve Natal possível. Que a geada que cobria os campos
nesse dia, como neve caindo de um céu muito azul, gelou
o coração para sempre. Sabe que a morte cumpre a sua tarefa,

que não existem roupas negras que cheguem para a noite
que se adivinha. O corpo do homem foi fechado pela madeira
de um só tronco. Não existem mares que atravessem o odor
da infância na memória de um filho. As praias serão mantidas ao
longe, agora que o sol cai no horizonte do mar, como o tronco
que lhe guardará o corpo já caiu há meses por terra, o aguarda.         

Sabe que os bichos foram mortos e a madeira está limpa.
Só no encontro com a terra poderão ressuscitar do pó, esboroar
o tronco, tragar-te o corpo. Envolvido por vermes, desaparecerás
lentamente como desapareceu o calor do coração da mãe.
JORGE REIS SÁ

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